Relato das sessões de respiração com idosos, conduzidas por Denise Agassi
Realizei as sessões de respiração para o público 65+ no Sesc Pinheiros. No final de cada encontro os participantes registravam as experiências pessoais, pensamentos, sentimentos ou sensações corporais que ocorrem durante a prática. A seguir, apresento alguns trechos desses registros:
Anamnese – Alguma questão específica traz você a esse processo?
G.M. – Curiosidade.
M.A. – Acalmar a minha ansiedade e a minha alma.
Y.D.S. – Creio que é bom para o autoconhecimento.
J.B. – Compreender melhor o funcionamento da minha respiração. Tenho a impressão de que contenho o ar. Gostaria de me conhecer melhor através da percepção do meu organismo.
M.A.C. – Autoconhecimento, consciência corporal e trabalho terapêutico para a dor. Também sou muito agitada, penso e falo muito rápido, por isso tenho dificuldade de meditar.
C.M. – Autoconhecimento.
C.A. – Ser saudável na mente, no corpo e na alma.
G.M. 60 anos
– Embora eu tenha dificuldade de permanecer na mesma posição por muito tempo, pois sinto dores no corpo, eu consegui relaxar e me senti muito bem.
– Não conhecia a relação dos órgãos do corpo com as emoções, achei muito interessante.
– Eu estava seguindo a respiração e, no momento em que senti a vibração da kalimba no meu abdômen, o choro brotou espontaneamente, deixei fluir seguindo a orientação. Não senti tristeza após a respiração, pelo contrário, me senti tranquila e revigorada.
– Hoje estava com mais dificuldade de manter o ritmo da respiração, pois os pensamentos corriqueiros me atravessavam. Quando estávamos quase no final do exercício, vi uma ave negra com as asas três vezes maior que o corpo. Ela começou a se debater na tentativa de alçar voo. Foi um momento de sofrimento, comecei a chorar por sentir o desespero dela. Consegui me acalmar e procurei manter o foco na ave e a vi voar muito alto e sozinha.
– Senti mais dificuldade para respirar porque estava com um pouco de dor de cabeça. Senti um pouco de tristeza e vontade de chorar, mas logo passou. No decorrer do exercício, a dor foi amenizando e terminei com sensação de bem-estar.
– A minha experiência nesse processo foi muito positiva, tenho dormido bem e vivenciado uma calma e paciência que estão me surpreendendo.
M.A. 67 anos
– Entrei na sala com o peito apertado e saí sem nada! No relaxamento com a vibração da kalimba no meu umbigo, senti uma melancolia e chorei. A vivência foi muito importante para mim, pois não choro desde os meus 12 anos.
– Durante a semana passada meus olhos lacrimejaram, mas essa semana não mais.
– Hoje senti mais dificuldade de respirar, mas acompanhar as orientadoras me ajudou bastante.
– Houve uma turbulência em casa no final de semana. Tenho três filhas e cada uma delas passou por um problema. Apesar disso, não perdi a calma ou me desesperei.
C.S. 71 anos
– Percebi o quanto fui reprimida durante a minha vida toda pelo meu pai e pela minha religião, por isso tenho muita dificuldade de me expressar.
C.M. 67 anos
– Achei difícil coordenar a respiração nasal, me senti desorganizada. Achei que não fosse realizar o exercício de forma correta, mas depois a sensação de relaxamento foi muito boa.
– Consegui aprofundar um pouco mais a respiração, mas ainda é um pouco difícil. Ao comando de respirar energia senti dor nos ombros e parei de respirar, fiquei inquieta, me mexi, me cocei muitas vezes. Acho que me conscientizei do medo que tenho de agir, do medo da dor, da fuga, de não querer encarar ou aceitar as coisas. Sentia as mãos adormecidas e formigando e, no final, senti um pouco de dor na parte dorsal da coluna.
– Parece difícil coordenar a respiração circular de forma fluida e calma, sempre voltam os pensamentos e medos que me perturbam. Mas a tentativa é válida, pois me faz perceber que preciso me interiorizar e me acalmar para melhorar a minha qualidade de vida.
M.S.C. 79 anos
– De quinta-feira para cá os problemas ficaram mais leves, tudo fluiu e dormi bem. De duas aulas pra cá senti como se meus pés estivessem acordados, leves, e hoje meu corpo inteiro está desperto. Fiquei maravilhada que na aula de hidroginástica consegui fazer bem todos os exercícios. Ontem, na academia, também consegui pedalar 5 km em 30 minutos, coisa que há tempo não fazia. Agora, para a despedida dessas vivências, sinto que meu lábio superior também acordou!
J.B. 27 anos. (Ela viu a divulgação da atividade e só percebeu que era para idosos quando chegou no local, mesmo assim pediu para participar, e o grupo todo a acolheu com muito carinho).
– Percebi que a respiração profunda estava quase adormecida.
– Saí leve e feliz com vontade de compreender mais o processo de respiração.
– Foi bem interessante perceber o aquecimento corporal gradualmente ao trabalharmos os diferentes ritmos de caminhada.
– A respiração me remeteu a um estado de presença corporal familiar ao vivenciado com a ayahuasca. Senti as mãos densas e uma vibração interna. Após sentir fortes vibrações na barriga (provocadas pela kalimba), veio a emoção através do choro, deixei fluir sem classificar, e isso foi muito importante. Durante a semana parecia que eu estava mais sensível e me emocionei com coisas simples.
– As vibrações e adensamentos corporais parecem se distribuir mais pelo corpo. Novamente veio o choro.
– Escrevo com as mãos trêmulas ainda. Fiquei impressionada com a força que tenho em mim, principalmente nas mãos, mas ao mesmo tempo noto que elas são capazes de resistir rigidamente, também são sutis e sensíveis. Respirar pela boca me permitiu perceber o céu da minha boca. Estou presente atenta às manifestações corporais e isso é uma alegria. No dia seguinte, acordei com dor nas “asas” (escápula), o que me fez perceber a relação desses músculos com as mãos, onde eu mais senti rigidez durante a sessão.
– Apesar da sonolência, a minha mente estava muito agitada, por isso achei difícil entrar na respiração. Hoje tive espasmos em dois momentos, como se fosse um despertar para o presente. Senti meu corpo relaxado e sutil. Ao retornar para a respiração, senti uma certa frustração e percebi que isso estava relacionado com as minhas expectativas, então acolhi esse sentimento e deixei-o ir, me senti mais leve e contente.
A.F.B. 73 anos
– Me senti um pouco angustiada, com pensamento sobre coisas que estou passando. Ao relaxar e deixar de controlar os pensamentos, tive uma boa sensação de cura. No final, senti muita paz.
Na vivência Respiração Consciente, percebemos o quão importante é trabalhar a respiração com os grupos da terceira idade, pois existe uma grande necessidade de autovalorização por parte dessas pessoas nesse momento da vida. O ancião é uma fonte de sabedoria, e essa consciência pode ser resgatada através de práticas que promovem a reconexão com a natureza autêntica de cada um, livre de condicionamentos e crenças limitantes. A experimentação das possibilidades do corpo nesse contexto restabelece a autoestima e a confiança no próprio corpo, o bem-estar ressurge, assim como a fluidez na vida e nas relações com o outro e consigo mesmo. A respiração consciente também possibilita às pessoas serem mais criativas, e assim poderão recriar a própria realidade, desde a consciência até a responsabilidade pela própria vida.